O Ar Que Ele Respira - Brittainy C Cherry
Quando li os primeiros burburinhos sobre “O ar que ele respira” no Facebook, imaginei que tudo seria resumido à adoração pelo lenhador da capa. Imaginei uma história de amor de um cara estilo durão com uma moça simplória. Imaginei um básico romance improvável.

Eis que me peguei em uma quarta-feira, às 23 horas, começando uma leitura que me levaria a muitas lágrimas e uma certeza: Brittainy C Cherry tem talento.
Tristan é um marceneiro que perdeu a mulher e o filho de 8 anos no Prólogo do livro.
Elizabeth é uma moça que perdeu o marido no Capítulo 1 e ficou com a filha de 5 anos, a mãe cheia de amor pra dar e nenhum trabalho.
Certo dia, voltando pra casa depois de uma longa temporada na casa da genitora, Elizabeth atropela o cachorro de Tristan. Escuta uns palavrões, uns desaforos e recebe um olhar muito zangado do camarada. Deve ter morrido de medo, porque convenhamos… Bom, porque deve e pronto. Sem julgamentos.
Imagine a cena: descalço, cachorro no colo, barba gigantesca e descuidada, te olhando com cara de mau e dizendo grosserias. Imaginou?
Dias depois, descobrem que são vizinhos.
Certo, não fui muito fã do primeiro beijo. Achei abrupto, sem sentido. Uma coisa meio “do nada”, mas acho que foi o objetivo da autora.
Eles resistem um ao outro, mas assumem-se como consolo recíproco pelas perdas. Começam a se relacionar (sexualmente, deu pra entender?), mas vendo os falecidos cônjuges. Doentio, de certo.
As cenas de sexo são sutis e não fazem do livro um hot propriamente. É impróprio para menores, digamos assim, ainda que atualmente isso pareça uma grande hipocrisia.
Então, quando se dão conta da situação patológica pândega, param de pular janelas de madrugada. É a pausa dramática para descobrirem que gostam um do outro e que, finalmente, podem enterrar os falecidos esposos. “Enterrar” no sentido figurado, porque um ano depois espero que não haja esqueletos reais no armário.
O livro é todo permeado de lembranças doloridas e toques delicados – como as plumas, que enternecem qualquer coração durão. Chorei rios, senti meu nariz entupir várias vezes, minha sinusite acordar e a dor de cabeça voltar. Tudo isso na madrugada de uma quarta pra uma quinta. E nem assim odiei o livro.
Descobrem enfim que estão apaixonados um pelo outro, coisa que o leitor percebe logo no Capítulo 2.
Ele como tinha abstraído da fofocada da cidade, ignora as energias negativas e opiniões contrárias.
Ela começa a escutar que ele é louco, assassino, psicopata etc e tal. Mas, abstrai.
Um amigo da moça (Tanner), então, decide provocar o lenhador fortão até ele perder o controle e “liberar o animal”. Consegue. Ganha uns bons socos que me fizeram sorrir. E não, não sou a favor da violência.
O tal Tanner resolve desenterrar o acidente que matou ambos os cônjuges. Sim, um bateu no outro. O carro do marido de Lizzie perdeu o controle e bateu no carro da esposa de Tris. Era óbvio no início da obra, mas é um fato que começa a ser ignorado ao longo do texto. Ponto favorável para a autora, que levantou sutilmente a bola no início, a deixou na marca do gol durante a história e chutou direto no fim.
Quando Tris descobre, pelo amigo cretino e não por Lizzie (fato que é um clichezinho básico), foge enraivecido. “Você mentiu pra mim”, “ele matou e a culpa é sua…” Ops! É? Acho que não, hein…
O livro não termina aí, mas não vou contar o fim porque o livro merece ser lido. Fui surpreendida, na verdade, por um estilo lenhador amargurado absolutamente afastado dos engravatados cinza. Foram quase 3 horas embebida em um romance dramático, de final feliz.
Mereceu cada minuto não dormido, levando a certeza que os tantos clichês da obra não a desmerecem, no geral.
Preciso, todavia, informar aos deprimidos de plantão: lágrimas correrão!